segunda-feira, 30 de março de 2009

"Poupar. A expressão dominou durante décadas o imaginário do português comum. De tal maneira que é raro encontrarmos alguém com mais de trinta anos que não se lembre de ouvir a expressão repetida até à exaustão pelos pais... ou avós.
O que se passou entretanto? Uma verdadeira revolução, no mau sentido do termo. Os portugueses criaram novos hábitos. Apaixonaram-se pelo consumo. Com as consequências que se conhecem, a taxa de poupança baixou drasticamente ao longo dos últimos vinte anos. Quem olhar para essas taxas desde 1980 corre o risco de sofrer um choque. Nessa altura, a taxa de poupança nacional em percentagem do Produto Interno Bruto ultrapassava os 25%. Isto significa que os portugueses poupavam um quarto da riqueza produzida todos os anos em Portugal. Portugal era um dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) onde mais se poupava. A partir de 1990, este valor começou a baixar drasticamente e essa queda acentuou-se a partir de 1998.
Quais as consequências deste movimento descendente da poupança nacional?
A procura de crédito agravou-se depois da entrada na moeda única. Do dia para a noite, as taxas de juro sofreram uma grande quebra. Repentinamente, famílias e empresas passaram a beneficiar de uma folga adicional: os que já se tinham endividado sofreram uma redução acentuada do serviço da dívida, o mesmo é dizer das prestações que pagavam aos bancos; os que recorriam ao crédito a partir dessa altura contrataram taxas muito baixas.
Em ambos os casos, o efeito foi imediato: a baixa do custo do endividamento libertou parte dos orçamentos familiares. E, ao contrário do que aconteceu noutros países onde esse rendimento extra não foi canalizado para consumo (ou apenas parte dele), em Portugal as famílias alargaram os cordões à bolsa. Resultado: o consumo disparou. E com ele novos hábitos de vida, espelhados na proliferação de superfícies comerciais por todo o país. "